Embora
a seção seja "Raça do Mês", merecem tanto espaço
quanto qualquer outro os SRD´s (sem raça Definida), os nossos famosos
"vira-latas". Presentes em nosso cotidiano, essas figuras também
estão presentes nas pistas de Agility Brasileiro e internacionalmente.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde os abrigos são mais "ativos",
não é difícil encontrar os "All American" ou os "Mix
breed", nomes usados para mencionar os SRD´s, em pistas de Agility, muitos
conseguindo tantos títulos quanto qualquer outro cão de raça.
Entrevistamos nesse mês Fátima Cândido, condutora
de Aníbal, e Valéria Alves, condutora de Sheetara. Vamos
às perguntas!
CBA: Conte nos um pouco da história dos seus SRDs
Fátima
Cândido: O Aníbal morava na Pet Life (pet shop onde
o Dante era sócio), era filho da cachorra de um cliente. Por uma
série de fatores, o Dante ofereceu para que eu o conduzisse, então,
ele morava lá e eu o treinava para agility. Até que o Dante
saiu de lá, e ele ia acabar ficando sozinho, então, fiz um
acordo com os outros donos do pet e ele veio pra minha casa definitivamente
em setembro de 2005. Ele tem um temperamento excelente, é muito
carinhoso, atencioso e obediente.
Valéria
Alves: Com 5 meses, a Xena (uma das minhas Schnauzers) tinha muita
energia e queria brincar até as 3 da manhã quando eu chegava
em casa. Decidi, então, adotar uma "irmãzinha" pra brincar
com ela durante o dia e eu poder dormir durante a noite.
Pesquisei e descobri q tinha uma feirinha da ONG AMIGOS DOS BICHOS,
no estacionamento de um supermercado na Washington Luis.
Fui até lá e o primeiro cercadinho que olhei tinha uma
bolinha de pêlos branca e bege q nem se mexia.
Não sei por que, mas não olhei mais nenhum bichinho. Não
conseguia sair do lado daquele cercadinho. Perguntei para a protetora se
podia pegá-la no colo e, assim que o fiz, ela me olhou nos olhos
com aquela cara de "pidona" e começou a lamber meu queixo enquanto
abanava o rabinho. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu disse:
"É minha...essa anjinha vai pra casa comigo."
Conversando com a protetora descobri que a antiga "dona" batia nela
e no irmãozinho com um cabo de vassoura, eles não tinham
uma vacina sequer (tinham 3 meses já) e tinham uma infestação
por pulgas e vermes que quase custou a vida deles. Bem, trouxe ela pra casa e foi amor a primeira vista entre ela e a Xena.
Aquela coisinha que nem se mexia no dia que a vi, não parava
de correr um minuto com a Xena. A dificuldade era ela saber que todas as
vezes que eu abaixava era pra lhe dar carinho ou comida e não pra
bater. Foram uns 4 meses até ela confiar totalmente em mim.
Ela sempre foi muito medrosa com pessoas. A aproximação
tem que ser lenta, calma e sem movimentos ou sons bruscos, senão
ela se assusta e se esconde.
Outra dificuldade é a ansiedade de separação.
Ela já pulou do ultimo andar da casa para vir me procurar, já
ficou o dia todo sem beber água ou fazer xixi me esperando e fez
um buraco na tela de arame da lavanderia. Fora todos os latidos e uivos
que ela dá quando chego em casa.
CBA: Quando e como você começou no Agility com seu
SRD?
Fátima: Comecei a treiná-lo quando
ele tinha uns 8 meses. Treinávamos semanalmente na pista do CAM.
Daí em função de muitas dificuldades ele ficou sem
treino específico por muito tempo. Treinávamos então
na Pet Life, apenas treinos técnicos, pois o espaço era pequeno.
Além disso, ele aprendeu vários comandos de obediência,
visando uma possível coreografia de free style. Isso fazia com que
ele se ocupasse, gastasse energia e aprendesse.
Valéria: Comecei com a Sheetara na mesma época
em que comecei a Xena, em 2003. Ela tinha 5 meses.
CBA: Vocês têm/tiveram alguma dificuldade específica
no treinamento?
Fátima: Acho que minhas dificuldades no treinamento
dele são dificuldades normais a condutores pouco experientes. Como
ele é muito esperto e ativo, se não consigo deixar claro
o que quero dele, ele nitidamente se mostra confuso; se ele se mostrar
em dúvida e eu não apontar o correto, ele decide.
O Aníbal não é o único SRD que treinei
para agility. Treinei também minha Chiquinha, hoje com 11 anos que
adora agility. Infelizmente ela é severamente displásica,
o que impossibilitou sua entrada em pista. Sempre que posso levo-a aos
treinos, coloco as barras de salto no chão e faço um treininho
com ela, nos saltos e túneis, embora seus obstáculos favoritos
sejam os contatos: rampa, gangorra e passarela, nessa ordem.
Valéria: Por toda sua insegurança e medo,
o processo foi um pouco mais lento do que com a Xena. Ela também
tomou um susto em uma das provas que eu não fui e colocaram ela
em pista, mesmo eu pedindo para não fazê-lo, que prejudicou
completamente o treino.
Levei mais 1 ano de treino pra que ela entrasse em pista sem medo das
pessoas, barulhos e tudo o mais que gira em torno de uma prova de agility.
CBA: O que você acha que aqueles que estão interessados
em fazer agility com seu SRD precisam saber?
Fátima: Acredito que os donos de SRD devem saber
que primeiro, SRD é um cão como outro qualquer, que tem habilidades
inatas e pode desenvolver outras tantas, desde que estimulado e recompensado
corretamente. Acho que a diferença, no caso, é que nas raças
definidas as habilidades inatas são evidentes, fazendo parte da
raça e nos SRD isso precisa ser descoberto.
Valéria: Que o agility é um esporte democrático
onde todos podem praticar. Homem, mulher, novo, velho, alto, baixo, gordo, magro, com pedigree,
sem pedigree ou SRD´s.
Seu cão é tão capaz de aprender e competir quanto
qualquer outro e você é capaz de ensinar como qualquer outro.
O que importa é sua dedicação e paciência em
ensiná-lo e principalmente retribuir todo o amor que ele lhe dá
e a vontade de se divertir com seu amigo peludo. Isso, nada no mundo paga.
:o)
CBA
(Para a Fátima): Conte um pouco do seu trabalho e do Aníbal
no Projeto Cão do Idoso.
Fátima: Sou psicóloga, trabalho com
Terapia Assistida por Animais na OBIHACC, ONG que mantém o Projeto
Cão do Idoso e o Programa Melhores Amigos. O primeiro destina-se
a atender idosos institucionalizados e temos trabalhos em Fisioterapia,
Terapia Ocupacional e Psicologia em 3 asilos. O Melhores Amigos trabalha
dentro de um instituto público de cardiologia, atendendo crianças
e adultos internados. O cão é o fator motivador para que
os assistidos compareçam e trabalhem nas sessões, elaboradas
pela equipe de profissionais de maneira que o cão tenha o máximo
de participação possível. O que possibilitou a participação
do Aníbal, mais do que qualquer habilidade que ele tenha foi seu
temperamento dócil e alegre. Sua disposição para executar
tarefas, sua delicadeza ao se aproximar das pessoas e a alegria com que
ele faz tudo que lhe é solicitado, faz com que ele seja um dos cães
mais queridos de nosso grupo. Informações sobre os trabalhos:
www.projetocao.org.br.
Renan Campos